quinta-feira, 16 de abril de 2009

Elogio ao Elogio da Loucura

“Não sabem! Elas tentam, tentam, mas nunca hão-de conseguir!”

Pois é, cá estamos…

Como provavelmente tiveram ocasião de constatar, o vosso muy ilustre e digníssimo cronista é esquizofrénico catatónico e tem dupla personalidade. Nada de grave, apenas algo impeditivo de conseguir, efectivamente, escrever crónicas.

Mas

(como diz uma amiga minha)

nada temam!

Que o coxo arranjará sempre maneira de conseguir publicar os seus devaneios, loucuras, ideias e opiniões!

(merda)

Há uns dias atrás, enquanto caía da minha bicicleta dei por mim a pensar: “porque faço isto?”. Uns quantos arranhões depois a mesma pergunta voltou a invadir o meu são território neuronal; mas por um motivo diferente.

O livro do Erasmo é fenomenal! Sabem aquela desculpa que arranjamos para justificar todas as nossas atitudes menos inteligentes?

(burras, mesmo!)

As nossas falhas, erros, más notas, não ter saído o Euromilhões, a mulher andar a fornicar o vizinho, o pirquito ter morrido?

Decerto que sabem.

O Erasmo encontrou a desculpa para tudo… prontos?

Aqui vai, chama-se: LOUCURA!

(okay, o gajo passou-se de vez)

Exacto! Segundo o holandês, a estultícia é a mãe, prima e meretriz do herro umano.

Ou seja, ela é a causa da clusterfuck que às vezes somos peritos em criar em nosso redor, ou em redor de outrém.

“Não sei como hei-de dizer isto: nós somos as mulheres da relação hoje em dia! É ridículo admitir, mas é verdade!”

“Pois é, no século XXI está-se a operar um mudança nunca antes vista, tens razão! Mas sabes o mais engraçado?”

“Erm, não…?”

“É que enquanto nós conseguimos, de facto, (e foda-se, tens razão isto soa mal) ser as mulheres da relação, elas, por seu lado, nunca irão conseguir desempenhar o papel de homens!”

“Precisamente! Eu sei amuar, fazer birra e queixar-me que ela não passa tempo nenhum comigo. Ela não faz a mínima ideia de como é ter pirilau, mijar de pé e arrotar a ver o Benfica!”

Porque é que ainda aturo as mulheres? Porque faço isto?

A resposta óbvia seria: “porque gostas de cona, tanso.”

E não estaria muito longe da verdade. Elas gabam-se das estatísticas da Elle e da Cosmopolitan a toda a hora: “(…) o homem quando não está a fazer sexo, está a pensar em fazer sexo (…) e mesmo quando está a ter relações, por vezes começa logo a imaginar quando será a próxima vez que fará sexo”.

(blá, blá, blá, whiskas saquetas)

Um verdadeiro e minucioso estudo provavelmente desmentiria todas estas afirmações baratas… ou não.

Mas adiante.

Não quero com isto parecer um misógino convicto, e muito menos sexista.

(acho que já vais tarde, miúdo)

Muito pelo contrário tenho um imenso respeito às mulheres…a sério! A misoginia não é bem a minha cena, prefiro a misantropia. É muito mais gira e engloba todos os macaquinhos evoluídos que somos.

Mas adiante.

Chegou a altura de começar a fazer sentido.

Estultícia meus caros, estultícia.

(eu acho que o Holmes dizia “elementar”)

A loucura é o que me faz continuar a idolatrar as mulheres.

“Têm a graça da formosura, mérito que antepõe a todas as coisas, e que lhes serve para tiranizarem os próprios tiranos, O varão tem as formas rudes, a cútis híspida, a barba selvagem (…); as mulheres, com as faces sempre macias, a voz sempre doce, a pele sempre lisa, têm a seu favor os atributos da juvência perpétua. (…) Não é a Loucura a deusa que lhes entrega da melhor maneira os varões submissos? Que é que eles não prometem às mulheres, e que é que eles não permitem? (…) Basta reparar na figura que o varão faz, e nas tolices que diz à mulher quando pretende obter a volúpia que ela concede.”

Erasmo de Roterdão in Elogio da Loucura

Mesmo que elas nunca venham a aprender a ser homens.

(Ámen)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

cala-te e fode-me!...

Sabiam que 90% do nosso comportamento é totalmente previsível?

Argumentem quanto quiserem, berrem, chorem, gritem, mas a verdade é que o contexto onde estamos inseridos condiciona quase todas as nossas acções.
Já experimentaram não segurar o volante enquanto conduzem, mas sim pegar num lápis e fingirem-se de maestros?
(Não tentem.)
Pois bem, não seria boa ideia, de facto, tal como soltar um sonoro vitupério à mesa de jantar, com o paizinho e a mãezinha por perto.
Como diz um amigo meu, cagar é na casa de banho. E muita razão tem ele, cada coisa tem – e toca de dar vivas à teoria do caos – o seu lugar e momento.


Sabiam, igualmente, que nos primeiros 3 a 5 minutos de contacto com uma pessoa desconhecida, a inserimos, de imediato, no ramo mais apropriado da nossa "taxonomia"?

Ou seja, vivemos condicionados aos estereótipos que criamos; e mais grave ainda, depois de formarmos a nossa opinião, procuramos e aceitamos apenas, pontos que a validem. Primeiras impressões ganham um sentido totalmente novo, não é?
Quer dizer então, que não obstante de provas contrárias, vamos apenas alimentar a nossa ideia inicial até se parecer como um porco antes da matança, e deixar morrer à fome a ténue e pálida imagem e representação verdadeiramente fiel do sujeito sob a nossa mira.



Em circunstâncias de relevância quase nula para a nossa pequena crónica, os protagonistas Eduardo e Miriam travaram conhecimento há cerca de ano e meio atrás. Os processos supracitados figuraram todos neste acquaintance e, novamente, não serão aqui explicados em detalhe.

Detalhado será, contudo, o relato desta noite.

A fim de vos situar, o Eduardo e a Miriam
(mais a Miriam que o Eduardo, verdade seja dita)
andam em ânsias
(ou será ao contrário?...não interessa)
para dar uma queca há já muito tempo.

As complicações, habitualmente, surgem, são identificadas, analisadas, é descoberta a melhor maneira de lidar com elas, e em seguida é isso mesmo que se faz: lidar com elas.
Para estes dois, no entanto, se não houver uma singela confusão, mal-entendido, ou uma outra merda qualquer, acreditem vós no que digo, eles tratam de arranjar.

Picardias de todas as maneiras e feitios, ofensas, medidas de força, alusões de carácter sexual, etc etc. Enfim, tudo isto acumulado acaba por gerar uma tensão e uma atracção que faz jus ao adagio do "amor/ódio", e leva todos os que rodeiam este excepcional "casal" a dizer: já fodiam!
E assim a estória se tem passado desde que há memória.




Não hoje.
Um outro dia, um outro casal.

A porta do elevador abre-se e, esbaforidos, entram dois transeuntes. O motivo da escassez de ar nos seus corpos não se deve por um qualquer sprint até ao elevador para este não partir antes do tempo, mas sim porque eles – os corpos – estão de tal forma colados que é difícil imaginar como é que entra ar por intermédio dos poros nas peles de ambos, quanto mais pelos narizes e bocas, que mais parecem ser unos neste momento.
O ambiente sombrio é ideal: apenas com a parca iluminação e espelhos em todo o redor, para onde quer se olhe, só se vislumbra mãos, pele, tecido, carne. Um roçagar de lábios pescoço acima, uma mordida em pele incauta, um beijo sôfrego que parece durar tanto como a ascensão até ao andar pretendido.

A porta da casa abre-se e, insolentes, são os sorrisos que ambos os transeuntes ostentam. À medida que avançam, um belo par de sapatos pretos de senhora ficam para trás, indo-se-lhes juntar um elegante casaco de tuxedo cinzento, uma camisa branca, e um lindíssimo vestido preto sem costas. O destino deste rastreio de enxoval, muitas vezes referido como fado (o destino), aqui é certo: a cama.

A cama verga-se, sem quebrar, perante o recém-chegado peso de dois corpos. E num fechar de olhos, reinicia
(terá mesmo chegado a terminar para estar agora a "reiniciar"?)
todo o ritual de carícias, palavras e gestos movidos exclusivamente pelo estado inebriante em que os transeuntes se encontram. Descartam-se os acessórios restantes da indumentária de ambos e agora sim, o leão está, finalmente, na cama com o lobo.
É agora: já não há espaço para o pensamento racional, entregam-se os dois ao arrebatador e avassalador sentimento que os percorre de mexa de cabelo a dedo do pé, de base da nuca ao fundo das costas, do peito à virilha, numa explosão que terá, indubitavelmente, consequências descomunais.
Eis senão quando: "Eduardo!... não... devíamos, não podemos, não, não..."


Cala-te e fode-me!...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Susana e o Vaso

«A Susana pousou o vaso com muita força no banco, e ele partiu-se.

A que se refere a palavra ele nesta frase?

A frase é ambígua, embora a maioria das pessoas só dê conta de uma interpretação: ele tem de se referir ao vaso, não ao banco.

Para chegar a esta conclusão contámos com o nosso conhecimento de que os vasos são habitualmente frágeis e os bancos não.

Assim, interpretamos de um modo que é guiado pelo nosso conhecimento, conhecimento esse que é obviamente fornecido pela memória. Não estamos, no entanto, conscientes do facto de que dependemos da memória. De facto, nem sequer nos damos conta, na maior parte dos casos, da frase ser ambígua.

De novo, somos apenas conscientes do produto destas operações – a nossa compreensão do significado da frase».

In Psychology, Gleitman et al.




Foi ontem, quando estava em vias de me deitar, que experimentei a necessidade de escrever. Surgiu, no decorrer deste inelutável capricho, uma panóplia de assuntos e matérias sobre a qual me senti, de imediato, predisposto a reflectir. Elucidando os demais com uma metáfora dita ‘cliché’: parecia mesmo que algo havia despertado em mim. Um desejo latente até então, mas que de forma súbita e inexplicável tinha tomado forma e corpo (com todos os adereços e atavios que possam imaginar), e dotado de uma vontade própria, me compelia a sentar em frente ao computador e simplesmente passar para o ‘papel’ tudo e mais alguma coisa.

Mas a preguiça foi mais forte, e procedi, como planeado, para o vale-dos-lençóis.



Sensivelmente vinte cinco horas depois, dou por mim a ponderar que ‘preguiça’ não é o termo que melhor descreve o contrapeso que, na véspera, me impediu de começar a escrever desenfreadamente. Afinal ontem apenas procrastinei, ou seja, de forma inconsciente, só adiei para o dia seguinte a minha recém-adquirida vontade.

Go figure.



Sendo esta a primeira vez que me dirijo a todos vós, talvez fosse oportuna uma introdução de certo tipo. Pois bem, para tecer rasgados elogios à minha pessoa estou sempre pronto.


Jovem bem-parecido, dezanove Invernos, solteiro, pronto para uma relação que conduza a matrimónio mas não filhos (odeio fraldas, choros, cheiro a merda e biberões), procura jovem de sexo feminino

(se não especificasse ainda me apareciam por aí uns malucos quaisquer),

atraente, inteligente, quente, e todo um conjunto de adjectivos que rimem com ‘ente’ – usem a imaginação

(está bem mas não cai por bem teres escrito dessa forma)

que goste de música, cinema, literatura, desporto automóvel e lavar loiça

(vês? essa referência à lavagem de loiça tem um teor profundamente sexista)

para encontros aparentemente fortuitos que despertem interesse e, quiçá, levem ambos ao supracitado matrimónio-sem-fedelhos

(ora essa, quem escreve a crónica sou eu, digo o que me aprouver)

mais informações, contacte-me: serei o imbecil de boina e óculos de sol a almoçar no Martinho da Arcada aos Sábados.



Pondo de parte o braggadocchio que acabaram de ler, acredito que é muito mais interessante virem a conhecer – por intermédio da minha escrita, das minhas opiniões sobre os mais variados temas, do meu clube desportivo, da minha cor favorita, da minha marca de cigarros e afins – do que condicionar, desde já, o vosso julgamento crítico

(adoro estas redundâncias ‘julgamento crítico’… gostava de me deparar um dia com um julgamento acrítico)

e dizer que sou um idiota que acha que, por publicar o que escreve, vai fazer algum contributo à Humanidade.


Para todos os que ainda estão a tentar perceber onde é que a citação inicial encaixa nisto tudo, vou agora providenciar a luz que iluminará o caminho tímido mas curto da compreensão.


Quando um amigo meu

(que está decerto rejubilante por não revelar a sua identidade)

esta noite pegou no livro em questão e decidiu ler a passagem que dá início a esta crónica, apareceu aquela magnânima representação de uma lâmpada acesa a pairar por cima do meu belo escalpe – sinal mundial de ‘o tipo teve uma ideia’ – e soube, logo, que queria falar-vos de ambiguidade.


Por definição, é a qualidade do que é ambíguo.

(Boa Einstein!)

De novo, e pondo de parte a minha tautologia, ambíguo é algo que possui um duplo sentido.


Como a frase onde a Susana é sujeito activo.

Como o termo que melhor descrevia o meu ‘estado de espírito’ ontem – preguiça ou procrastinação.

Como o que me passava pela cabeça quando decidi transformar uma pequena descrição da minha pessoa num classificado-de-jornal-disfarçado-e-abastardo-senão-mesmo-massacrado.

Como os meus diálogos, que afinal são monólogos, ou que se calhar são diálogos e eu escolhi ambiguidade como tema para atenuar a patologia de que padeço.

Como o duplo sentido inerente a tudo o que escrevi, que deixa em todos vós a perpétua dúvida se o gajo está a falar a sério ou a gozar com a minha cara.



E pronto, foi o que fiz.

Agora que chegámos ao fim, irei tentar fazer jus ao tipo de texto que esta composição é e, por conseguinte, voltar a publicar uma qualquer ‘reflexãozita’ na semana vindoura.



Subscrevo-me,


Manuel